A natureza da Ilha do Príncipe é tão exuberante quanto vulnerável. Essa fertilidade do meio reflete-se também na cultura. É uma realidade simbiótica que interessa conhecer e valorizar, porque o futuro dependerá da conservação dessa herança no presente.
O Príncipe integra a Rede Mundial das Reservas da Biosfera da UNESCO desde 2012. A Reserva da Biosfera da Ilha do Príncipe compreende toda a sua área terrestre e marítima, incluindo o Parque Natural do Obô (2006), que representa mais de 50% da superfície da Ilha.
O documento de candidatura da Ilha do Príncipe a Reserva da Biosfera (2012) identifica 450 espécies de flora (sendo 24 endémicas), 28 aves, 13 répteis e 3 anfíbios que são autóctones da ilha. O mar possui 355 espécies de peixes, 11 espécies de cetáceos, 5 de tartarugas, 28 de moluscos e muitos corais, crustáceos, entre outros.
Dos mangais à floresta tropical de chuva, os ecossistemas do Príncipe são ainda lugar de descoberta de novas espécies todos os anos, o que demonstra a fragilidade e absoluta necessidade de preservação da natureza da ilha.
Para além do esforço para a conservação das tartarugas marinhas, a Reserva da Biosfera tem promovido a restauração dos habitats de mangal e a proteção de espécies de aves e plantas endémicas.
O controlo do corte de árvores e a posterior reflorestação, a consciencialização para o respeito da areia das praias ou o trabalho de recolha e transformação de resíduos sólidos e orgânicos e a diminuição da utilização do plástico têm, também, contribuído para a melhoria da qualidade ambiental e abrem novas possibilidades de negócios sustentáveis para a população.
O Lunguyê, que esteve em risco de ser esquecido, ganhou lugar obrigatório nas escolas por iniciativa do Governo Regional. É também transmitido através da música e da dança.
São diversos os grupos culturais que procuram manter ou recuperar as tradições do Príncipe, de forma a conservar o seu património cultural.
Em 2022, o projeto Ser Principense: a arte, a cultura e o património, no Passado, Presente e Futuro procurou valorizar a perceção dos patrimónios da ilha do Príncipe (São Tomé e Príncipe), compreendendo a sua indissociabilidade do território e das comunidades que o habitam.
Procurando dar voz aos habitantes do Príncipe, foram realizadas mais de 40 entrevistas, visando identificar e caracterizar o património cultural e natural do Príncipe, observando, numa perspetiva histórica, o passado e o presente, promovendo a valorização do seu conhecimento e a sua preservação para o futuro. Foram registadas atividades de vários grupos ligados à dança, ao teatro e à música, bem como objetos e documentos relacionados com estas e outras práticas, numa dinâmica que envolveu cerca de 90 pessoas, entre entrevistados, participantes dos grupos e a equipa do projeto.
O projeto Ser Principense: a arte, a cultura e o património, no Passado, Presente e Futuro, foi promovido pela Reserva da Biosfera da Ilha do Príncipe, em parceria com a Direção Regional de Turismo, Comércio, Indústria e Cultura, a Efrican Foundation e o programa Memória para Todos® de História, Territórios e Comunidades da NOVA FCSH – Centro de Ecologia Funcional – Ciência para as Pessoas e o Planeta (CFE-UC), e financiado pelo programa ACP-EU CULTURE.
As memórias dos principenses demonstram a interação entre a comunidade e a Natureza, e como essa ligação moldou práticas quotidianas e culturais, refletindo saberes ancestrais e dinâmicas sociais que perduram no tempo.